sábado, 28 de janeiro de 2012

A falta de religião provoca violência?


Célebres agitadores da mídia nacional, além de operadores e estrategistas de segurança pública, vez ou outra colocam na conta da falta de religião a epidemia de violência por que passa o país. “Falta de Deus no coração, as pessoas não ligam mais para os mandamentos divinos, ignoram e não são mais tementes a Ele, não têm religião”, dizem. Por esta ausência de fé, a violência se manifesta, e osvalores tradicionais são esquecidos.
Sugiro aos leitores que sempre que ouçam um discurso neste tom desconfiem sinceramente de que o autor deste raciocínio está equivocado – por ignorância pura e simples ou tentativa de manipulação.
Cabe primeiramente observar que este entendimento coloca na conta do laicismo (a ausência de qualquer orientação religiosa/teológica) o cometimento de todas as violências. Temos, então, ateus e agnósticos como os principais suspeitos de práticas criminosas – conclusão que gera uma aberração criminológica. Será esta mais uma expressão da discriminação contra estes grupos, que segundo pesquisa do Instituto Gallup, nos EUA, apenas 49% da população colocariam na Casa Branca, enquanto 95% dos americanos votariam em uma mulher para presidente, 92% em um negro ou judeu e 79% em um homossexual?
Outra observação se apresenta para questionar a tese: se a religião e o posicionamento teológico evitam a violência, por que teocracias tendem a ser fundamentalistas, violentas com seu próprio povo e antidemocráticas? Alguns, ao defender sua própria religião, principalmente a cristã (maioria no Brasil), dirão que isto é coisa do islamismo e outras religiões, esquecendo-se de práticas similares que a célebre inquisição católica praticou no passado. Ou seja, violenta é a religião do outro, não a minha.
Na verdade, as crenças ou descrenças das pessoas devem se situar em um único plano: nas próprias pessoas. Sempre que se evoca a religião ou a crença em um Deus como causa ou consequência de algum fato político/social como a segurança pública, tendemos ao fundamentalismo, impomos a crença, e criamos uma cortina de fumaça escondendo realidades como a corrupção policial, a ineficiência administrativa das polícias, a manipulação política, a desigualdade social e outros tantos elementos mais dignos de preocupação na área.
A não ser ao ensinar policiais a serem tolerantes com a orientação religiosa de cada cidadão, não é uma preocupação legítima relacionar violência com religião, pelo menos não em uma democracia laica.

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