quarta-feira, 16 de março de 2011

BALA PERDIDA...



ENCONTREI NO BLOG A VOZ DA BAHIA, UM POST MUITO INTELIGENTE E CRIATIVO QUE DE FORMA LÚDICA CONTA UM DRAMA DE NOSSA SOCIEDADE.  

BOA LEITURA!

CARTA DE UMA BALA PERDIDA AS SUAS VÍTIMAS
   Sou uma bala perdida. Tenho esse nome porque não tenho moradia fixa nem pousada certa. Fico pra lá e pra cá, sem ter onde ficar. Por isso sou um artefato de fogo sem CEP. As vezes passo uma temporada inteira dentro do cano de uma metralhadora, quietinha e sossegada. Mas aí alguém resolve apertar o gatilho e lá vou eu pra mais uma chacina. Da ultima vez fui parar na cabeça de um pobre coitado. Acho que era um traficante, não sei. Eu estava quietinha no gatilho de uma escopeta, quando de repente...BAM! Quando dei por mim já estava alojada no crânio do infeliz. Nem tive tempo de pedir-lhe desculpas por ter transformado seu cérebro em gelatina.   
   Sendo uma bala perdida não posso me recusar a matar. Afinal não sou eu quem aperta o gatilho. Lembro-me de uma vez em que perfurei o estômago de um pai de família. Ele tinha ido comprar pão numa padaria, quando apertaram o gatilho da metralhadora onde eu estava. Quando dei por mim já estava rasgando o estômago daquele pobre coitado, que morreu na hora. 
  Ao contrário do que muitos imaginam, nós, as balas perdidas, temos nossos dramas de consciência. Não é fácil perfurar o estômago de um pai de família e ficar indiferente a isso. Depois que isso aconteceu, mergulhei numa depressão profunda, a chamada "depressão pós tiro". De vez em quando nós passamos por isso. Fiquei sem me alimentar, emagreci, entrei em crise. Tornei-me uma bala raquítica e anêmica. Por isso nós, as balas perdidas, vez por outra consolamos umas às outras em conferências de aconselhamento. Essas conferências se dão durante um fogo cruzado, quando várias balas acabam se encontrando. Nessas horas trocamos rápidas palavras de conforto e ânimo, antes de matarmos mais um azarado infeliz.
  Sei que nada do que escrevi fará com que as pessoas nos odeiem menos. Mas gostaria pelo menos de esclarecer que nós, as balas perdidas, não temos culpa pelo sangue que vem sendo derramado. Se nós matamos, fazemos isso não porque queremos, mas porque alguém resolveu apertar o gatilho. De qualquer forma, em nome de todas as balas perdidas desse mundo, gostaria de pedir desculpas a todos os cérebros, corações, pulmões, intestinos, braços, pernas, mãos, cabeças, pés e crânios que perfuramos e dilaceramos  algum dia...e aproveito para agradecer a cada um desses órgãos a estadia que nos foi concedida durante o período que passamos alojadas em cada um deles.  
 Muito obrigado a todos os órgãos.
 Assinado:  Uma bala perdida.



Colunista: Glênio Cabral / Pós em Gestão de Pessoas e Idelizador do Site: www.novainfancia.com.br
e-mail: glsilva@hotmail.com

2 comentários:

  1. Muito bom o texto gostei

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  2. Deus me livre dessa bala perdida,rsrsrsrs muito inteligente esse texto.

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