Apesar do desenvolvimento de meios de comunicação mais modernos, a exemplo da internet, o jornalismo impresso ainda é uma via importante de transmissão de notícias, com as características que lhe são peculiares. Além de servir ao propósito citado acima, ele pode ser visto como uma maneira de avaliar a forma como grande parte da sociedade se comunica e qual a tendência futura nesse rumo.
Na Bahia, durante longo período, havia basicamente três jornais, sendo eles a
Tribuna da Bahia, de menor expressão, porte modesto e consequentemente circulação limitada; o
Correio da Bahia, que durante longo período serviu explicitamente aos interesses de determinado grupo do poder político, passando posteriormente por um processo de repaginação que será tratado adiante, e o jornal
A Tarde, mais tradicional e dominante do mercado, sendo a leitura favorita da maioria dos adeptos a este hábito.
A saída do poder do grupo político que controlava o Correio, juntamente com o falecimento do seu representante maior, trouxe uma revolução no jornal desta rede, totalmente repaginado, passando a uma formatação de caderno único, semelhante a um tabloide, com linguajar mais acessivo e preço quase simbólico se comparado aos padrões anteriores, passando a ser vendido a R$ 0,50 enquanto o concorrente direto custava R$ 1,75. Talvez subestimando a “jogada” do concorrente, A Tarde suportou o quanto foi possível a concorrência, até que a perda de espaço obrigou a tomada de medidas imediatas, uma vez que
o Correio surpreendentemente assumiu a liderança nas vendas. Enfim, melhorou, e muito, em forma e conteúdo.
A edição de A Tarde “emagreceu” com a perda de alguns cadernos, a mescla ou incorporação de outros, e os atrativos comerciais de promoções, no intuito de reduzir a perda de espaço e baratear os custos, sem redução nos preços. Até aí tudo bem, não passa de estratégia de sobrevivência no mercado, o problema surge com o lançamento do “
Massa!“, um apelo constrangedor.
Aparentemente inspirado no que há de pior no jornalismo carioca, que é reflexo de uma sociedade pitoresca (melhor eufemismo pensado), ele surge para prestar o indesejável desserviço que o barateamento do Correio não se propôs a realizar: desnudar dos véus da decência a escrita do jornal impresso.
Se tem sido lucrativo, é sinal que há demanda, encontrou lacuna no comércio e disso se locupletou, algo perfeitamente válido na disputa capitalista. Mas para um jornal que sempre transmitiu a imagem de resguardar certa moralidade editorial e ser instrumento do processo de educação, mesmo com novo nome, não há como deixar de perceber o desserviço prestado pela redução de qualidade sem compromisso com quaisquer causas sociais.
As capas de “Massa!” se notabilizam pela insistente exposição de imagens eróticas femininas, quase pornográficas, bem como pela ode à violência, reportada nos moldes dos tão criticados noticiários do meio-dia na sociedade baiana, onde o criminoso é tratado como herói e/ou a sua prisão é noticiada em forma de brincadeira, com trocadilhos, piadas, “gaiatices” e outras impropriedades. Tudo aquilo que não existia e era indesejado, agora está aí em todas as bancas.
As manchetes se concentram em ações e ocorrências policiais, em fofocas do pagode, em pobres que ganharam na loteria e agora são ricos, no universo de futilidade que não deveria ser fomentado por supostos guardiões de tão universal e histórico meio de comunicação. É como ter visto o Jânio Quadros de tanga, jogando baralho em uma rinha, ou flagrar o Jair Bolsonaro usando drogas e defendendo cotas raciais em uma parada homossexual – é o cúmulo da incoerência, mas o que são os seres humanos, senão os representantes máximos da hipocrisia? Segue o enterro.